sábado, 28 de agosto de 2010

O Casamento I



 Casamento? Se a mulher quiser

        A apaixonada pensa em casar. É um acto obrigatório? Não no Antigo Egipto. Nenhuma lei obrigava uma mulher a viver com um homem. A mulher solteira possuía uma autonomia jurídica, tinha bens próprios, que ela mesma geria, e ninguém a julgava irresponsável. Esta independência chocou muito os gregos, que a consideraram quase imoral. O casamento, porém, tentava a maior parte das apaixonadas, que não estavam sujeitas a uma idade legal para realizarem o seu sonho. Aos quinze anos, ou mesmo mais cedo, uma egípcia podia ser mulher e casada; segundo os sábios, devia-se ter filhos na juventude.

    Quando a apaixonada decide casar, ninguém a pode impedir. É necessário discutir com os pais, mas o pai não tem o direito de impor um pretendente à sua filha. Em caso de conflito, prevalece a opinião da jovem. Na maior parte dos casos, o bom entendimento familiar foi a regra, tanto mais que se recomendava ao pai que estimasse o seu futuro genro em função das suas próprias qualidades, e não da sua eventual abastança.


Casamento Experimental

                 Ao contrário de muitas sociedades antigas e modernas, que dão muita importância à virgindade da noiva, o Egipto faraónico não fez disso uma questão de honra nem motivo de preocupação. Nada impede a jovem de ter relações sexuais antes do casamento.
Como uma das bases desta união é a fidelidade, devem viver namoros e ligações passageiras antes de um compromisso que se pretendia definitivo e para toda a vida. Documentos tardios mencionam porém um ”presente da virgem”, ou seja, bens materiais oferecidos pelo marido à mulher em troca do dom da sua virgindade. Ainda mais surpreendentes, e de um liberalismo que a nossa época ainda não igualou, são os contratos de casamento temporários, ou seja, experimentais, por um determinado período de tempo.
Em certas circunstâncias, julgava-se preferível pôr os sentimentos à prova. O filho de um guardador de gansos, por exemplo, tomara mulher por nove meses, concedendo-lhe bens que depositara no templo. Se ela rompesse o contrato, ele reavia-os. Se, em contrapartida, ele lhe pedia para deixar a sua casa, seriam para a mulher. Três textos provenientes da região tebana falam de uma primeira fase do casamento com uma duração de sete anos, finda a qual os laços que uniam o casal deviam ser definitivamente explicitados, tanto para estabelecer os direitos da esposa como os dos eventuais filhos.    
                                             

      O casamento: Habitação Comum

                  Constrói uma casa, recomenda o sábio Ani na sua Máxima 26 destinada ao futuro marido, verás que afasta desavenças e desordem. Não penses que podes habitara casa dos teus pais. Para o Egipto faraónico, é este o aspecto fundamental do casamento: que um homem e uma mulher vivam juntos sob o mesmo tecto, numa casa própria. Segundo os textos, casar é "fundar uma casa" (geregper), "viver juntos" (hensi irem), "entrar na morada" (aq r per).
    O casamento não é um acto jurídico mas social, que consiste numa coabitação livremente decidida por um homem e uma mulher. Não se trata de um ritual religioso nem de uma obrigação administrativa, mas da vontade de um casal viver o seu próprio destino num lugar a que irá apor a sua própria marca: eis o casamento à egípcia. A partir do momento em que um homem e uma mulher vivem juntos à vista de todos, estão casados e devem assumir os deveres inerentes a essa escolha.


    Outra palavra, meni, é por vezes utilizada para designar o casamento; é um termo da marinha e traduz-se por "amarrar", sugerindo a ideia de um barco que chegou a bom porto após uma longa viagem. Este termo também significa "morrer", posto que a existência era apreendida como uma travessia que podia terminar num naufrágio ou numa acostagem feliz, ou seja, na ressurreição. De facto, o casamento é a morte da vida descuidada; ao tomar marido, a egípcia amarrava-se ao porto da vida conjugal, lugar de estabilidade.

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