sábado, 20 de agosto de 2011

Os discípulos de Thot



            Uma velha árvore estende sua ramagem imponente no meio do salão sagrado do templo de Aton-Rá, em Heliopolis. Nesse santo lugar, Thot e a Deusa Seshat, mestra da escrita e soberana da casa dos livros, dedica-se a uma tarefa curiosa. Nas folhas da árvore, inscrevem o nome de cada um dos monarcas que reinaram sobre o Egito. Assim, a lembrança dos reis e de seus feitos passará a posteridade. A exemplo dessas Divindades, os egípcios escrevem muito: anotam tanto os acontecimentos históricos mais importantes quanto os fatos mais corriqueiros. Os que conhecem a escrita, chamada “palavras do deus”, gozam de consideração e poder – os escribas são os colegas terrestres de Thot. Qualquer pai gostaria de ver seu filho dedicar-se a essa carreira.


É nisso que pensa o velho letrado Duauf, enquanto leva o filho Pepi a escola para realizar os longos e difíceis estudos que farão dele um funcionário do faraó. Antes de se separarem, o velho aconselha o menino:

- Meu filho, dedique-se aos livros de todo o coração, ame-os como a sua própria mãe, pois não há nada mais importante. Todos os ofícios são cheios de inconvenientes e misérias. Apenas o homem instruído, aquele que se dedica à função de Thot, à nobre carreira das letras, pode usufruir uma felicidade profunda e duradoura.

Pepi sempre se lembrará dessas recomendações, que no decorrer dos anos de escola, os professores não deixarão de repetir. É claro, melhor ser escriba do que suportar as tristezas da vida de uma soldado ou a existência modesta de um camponês... Ao término de sua penosa educação, Pepi assumirá as funções num dos escritorios da administração real. Lá sob a efígie de um babuíno branco, trabalhará com dedicação, sem se esquecer de, todos os dias, reverenciar e honrar Thot, secretário dos Deuses. E será considerado um homem importante e respeitável, detentor de um saber inacessível aos demais.