sexta-feira, 30 de abril de 2010

Uma Mágia de Estado


A magia era considerada no Estado egípcio uma atividade primordial. Os livros mágicos não são escritos por autores que os redigem segundo a sua fantasia, sendo antes obra de instituições oficiais como a Casa de Vida, e fazem parte dos arquivos reais. Um dos primeiros objetivos da magia é proteger o faraó de qualquer influência negativa. Como escreveu Jean Yoyotte, “a visão egípcia do mundo procede de uma alta magia de Estado, coerente, raciocinada, admiravelmente perceptível e serena”. 

Estaríamos bem enganados se acreditássemos que a magia, na época dos faraós, era uma atividade individual. Essa foi a expressão mais decadente e a menos rica de significado. Os egípcios utilizaram, sobretudo, os rituais dos templos, celebrados em todo o país. Todo ato de culto é mágico. Pensemos, por exemplo, no fato de o faraó ser o único habilitado a dirigir os ritos necessários para manter a presença dos deuses na Terra. A imagem do rei, gravada na parede de cada templo, anima-se magicamente para entrar na alma do sacerdote que efetivamente dirigirá a cerimônia.

O maior centro de magia do Egito era rovavelmente a cidade santa de Heliópolis, a cidade do Sol (à altura do Cairo), onde se elaborava a mais antiga teologia. Ali eram conservados numerosos papiros “mágicos”, no sentido amplo do termo, incluindo textos médicos, botânicos, zoológicos ou matemáticos. A maior parte dos sábios e dos filósofos gregos dirigiu-se a Heliópolis para lá receber comunicação de uma parte dessa ciência acumulada durante séculos. Foi ali, nomeadamente, que Platão tomou conhecimento da lenda da Atlântida que fez correr tanta tinta e cujo verdadeiro significado ainda hoje nos é desconhecido, e só pode ser deduzido dos textos egípcios.

O primeiro princípio mágico é a necessidade da oferenda aos deuses. Graças a esse ato, a Criação continua. “Dar Maât (a harmonia universal) ao mestre de Maât (o Criador)”, segundo a fórmula ritual, é permitir que a vida se prolongue. O que o Antigo Egito mais temia era o caos, esse estado de negatividade oposto a Maât, a ordem das coisas. Não basta a boa vontade para evitar a desordem que, a termo, condena toda a civilização. A magia é uma arma de valor excepcional, graças à qual as barcas solares circulam corretamente nos céus, os mortos recebem o alimento que lhes é devido, o Estado funciona e celebram-se as festividades. Sem a intervenção mágica do Estado, as importantes cheias do Nilo não ocorreriam, as culturas não seriam irrigadas, os caçadores não poderiam matar caça, os pescadores não pescariam peixes, os artesãos não acabariam as suas obras, os templos não poderiam cumprir a sua missão.




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