sábado, 24 de julho de 2010

A verdade sobre os Haréns Egípcios


                 Harém... Palavra portadora de fantasmas, povoada de sultões libidinosos, de jovens lascivas educadas para satisfazerem os desejos do macho. A egiptologia teve a infeliz ideia de escolher a palavra "harém"para designar uma importante instituição do Estado faraónico, ritual, educativa e ao mesmo tempo económica, que nada tem que ver com as prisões de mulheres do mundo muçulmano. Confusão vem do significado do termo egípcio kheneret, "lugar fechado", que certos eruditos logo traduziram por "harém" porque ali se encontravam comunidades femininas, que no entanto não eram formadas por reclusas, e que aí celebravam ritos em honra da divindade protectora do harém: por exemplo, Âmon, Min, Hator, Ísis ou Bastet. O carácter fechado do "harém" egípcio, já que temos de continuar a chamar-lhe assim por um hábito dito "científico", está ligado ao seu aspecto secreto. Além disso, o termo khener significa igualmente "música, manter o ritmo"e veremos que o ensino da música era, efectivamente, uma das funções dos haréns egípcios.
           Discípulas da deusa Hator, as sacerdotisas que aí viviam asseguravam ritualmente a sobrevivência da alma e a irrigação da Terra pela energia celeste. Uma "Venerável (shepesef)" está à frente do harém, e a superiora de todos os haréns é a própria rainha. Na sua qualidade de "Esposa do Deus" e de soberana de todas as sacerdotisas do reino, ela dirigia estas instituições na sua totalidade: preocupava-se com os programas educativos, nomeava os professores, zelava pela boa saúde económica dos estabelecimentos e pela prática justa dos ritos. Em cada harém, uma encarregada representava a rainha, quer como directora delegada, quer como assistente de um director, muitas vezes chefe de província ou sumo sacerdote. Devemos imaginar o harém como um pequeno aglomerado com serviços administrativos e numerosas oficinas; a instituição dispunha de rendimentos de raiz e recebia provisões vindas dos seus próprios domínios.
           Mer-Ur, o grande harém do Faium, tinha uma reserva de caça e de pesca. O facto de pertencer à administração do harém era muito apreciado e abria caminho a brilhantes carreiras ao serviço do Estado. Personagens de grande estatura como Hapuseneb, o sumo sacerdote de Amon, ou os vizires Requemiré e Ramosé aí ensaiaram os seus primeiros passos.
           No Novo Império, a direcção dos haréns foi por vezes confiada a mulheres, esposas de sumo sacerdotes de Amon. Aliás, as damas do harém parecem ter exercido uma importante influência na nomeação dos altos dignitários do clero tebano. Entre as primeiras actividades artesanais do harém figurava a tecelagem, destinada a fornecer ao templo as vestes indispensáveis ao culto e a ilustrar o processo da Criação relacionado com a deusa Neit, que havia tecido o mundo à mão e pelo Verbo. As mulheres também fabricavam objectos de toilette como pequenos cofres e potes para pós.
            No harém eram admitidos altos funcionários, administradores, artesãos, servos; em suma: toda uma população de homens e mulheres que formavam uma micro-sociedade. As rainhas e as esposas "secundárias" gostavam de mandar criar os seus filhos nos haréns, onde recebiam uma educação de qualidade. Moisés, filho de uma dama da corte, teria descoberto a sabedoria dos egípcios no internato de um harém. Futuras sacerdotisas se beneficiavam do saber dos professores. Era um lugar tão tranquilo que altas personalidades aí vinham terminar os seus dias; é provável que a grande rainha Tiyi tenha morrido no harém de Gurob, um paraíso na Terra, para onde se havia retirado.
           As estrangeiras que vinham habitar o Egipto na qualidade de "esposas diplomáticas" do faraó eram hóspedes privilegiadas dos haréns. Garantes da paz e da amizade entre o Egipto e o seu país de origem, tinham direito a um tratamento excepcional: boa casa, numerosa criadagem, vida dourada para fazer esquecer o exílio.
                                                                                                                     
           As damas do harém aprendiam a tocar vários instrumentos musicais como o alaúde, a harpa, a flauta, a lira, etc., iniciando-se também no canto e na dança. Estas artes tinham uma função mágica, pois a sua harmonia afastava as forças negativas e congregava as positivas. Pela música, a alma eleva-se ao divino e todo o ser sublima-se. Embora ainda não tenha sido possível identificar a notação musical do Antigo Egipto, supondo que tenha existido, nunca será de mais sublinhar a onipresença da música nos ritos e no quotidiano.
      Uma inscrição do túmulo de Mereruka, em Sacara, datada do Antigo Egipto, revela "o segredo das mulheres do harém": trata-se de uma dança ritual em que participam sete mulheres divididas em dois grupos, o primeiro de três dançarinas e o segundo de quatro. Encarnam na Terra a dança do universo, na qual o próprio faraó participa quando evolui diante de Hator, padroeira das iniciadas do harém.





                                                               

2 comentários:

  1. PARABENS SOU FACINADO POR EGIPTOLOGIA,ESTOU MUITO CONTENTE DE TER ECONTRADO ESTA COMUNIDADE NOVA MEUS PARABENS

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