Tinha
começado o período por todos receado: o dos cinco últimos dias do ano,
não incluídos no calendário harmonioso que compreendia de doze
meses de trinta dias. Aqueles cinco dias fora do ciclo
regular constituíam o domínio de Sekhmet, a aterradora
Deusa com cabeça de leão que, rebelando-se contra a luz,
teria massacrado a humanidade se os Deuses não intervissem uma ultima
vez em seu favor, fazendo crer a fera divina que estava bebendo sangue humano
quando na realidade, estava absorvendo uma cerveja vermelha a base de
joio.
Todos os anos, no mesmo período, Sekhmet ordenava as suas
hordas de doenças e miasmas que se espalhassem pelo país e encarniçava-se em
libertar a terra da presença de seres humanos maus, covardes e conspiradores.
Nos templo, as pessoas cantavam dia e noite litanias destinadas a acalmar
Sekhmet, e o Faraó em pessoa diria uma liturgia secreta que permitia uma vez
mais, se o rei fosse justo, transformar a morte em vida
Durante esses temíveis cinco dias, a
atividade econômica era quase interrompida; adiavam-se projetos e viagens,
os barcos ficavam no cais; muitos campos permaneciam vazios.
Alguns retardatários apressavam-se em reforçar os diques que exigiam
os últimos reforços, receando o aparecimento dos ventos violentos,
testemunho do furor da leoa vingativa. Sem a intervenção do Faraó,
oque restaria do país, devastado por um desencadear de potencias
destrutivas?
Extraído do livro "Ramsés: o Filho da Luz"
de Christian Jacq